Conteúdo escrito por Jennifer Craco
Timidez, introversão ou ansiedade social? Uma coisa é fato: interações sociais são influenciadas por vieses culturais e de gênero, o que faz com que muita gente confunda esses três primeiros tópicos que mencionamos. Esse é só um dos motivos que dificulta o acesso a um diagnóstico e tratamento correto do Transtorno de Ansiedade Social (TAS), apesar de esse ser um transtorno relativamente comum (que chega a acometer globalmente de 5% a 10% das pessoas).
Este artigo do Psychiatric Times define a ansiedade social como um tipo de ansiedade que ocorre junto a situações sociais e que pressupõe o medo de ser examinado e visto nesses momentos. A ansiedade social pode aparecer quando você encontra ou conversa com desconhecidos, quando se apresenta em algum lugar ou, até mesmo, quando come perto de alguém. São inúmeras possibilidades. Como ocorre com a ansiedade em um geral, a ansiedade social também pode ser coerente com a situação vivenciada – como quando você se sente nervoso ao apresentar seu TCC na faculdade, por exemplo –, mas o que define o TAS vai muito além disso.
Pessoas com TAS creem que serão julgadas, ridicularizadas ou, em um geral, percebidas de maneira negativa pelos outros. Para o diagnóstico, não é necessário ter havido anteriormente alguma experiência traumática com situações sociais – mas é necessário que os sintomas se façam presentes por no mínimo 6 meses e que causem prejuízo em múltiplas áreas de funcionamento da vida do sujeito, de acordo com os critérios do DSM-5 (até porque, como já seria de se imaginar, é muito comum que pessoas com o transtorno queiram fugir das situações que lhes causam medo, o que as leva a perder várias oportunidades acadêmicas, profissionais e sociais). Também é interessante comentar que o famigerado medo de falar em público é considerado um subtipo do TAS (também seguindo critérios de duração e prejuízo, hein?).
Para auxiliar no diagnóstico, os autores do Psychiatric Times ainda mencionam o Inventário de Fobia Social e a Escala de Ansiedade Social de Liebowitz. Além disso, como ocorre com todos os diagnósticos, também deve-se levar em consideração a etapa do desenvolvimento e como o TAS pode se manifestar de acordo com a idade. Em crianças, por exemplo, pode ser uma recusa em ir ao colégio.
Mais recentemente tem-se estudado, inclusive, a relação entre o uso de internet e o transtorno – mas ainda há poucos estudos sobre o assunto. Aqui, já havíamos falado sobre o uso de álcool para mitigar alguns sintomas do TAS em interações sociais. Dá uma olhadinha!
Ok, falamos sobre o diagnóstico e algumas manifestações do transtorno… mas, como tratá-lo? Geralmente, por meio de psicoterapia. Pode-se também associar a ela um tratamento medicamentoso. A Terapia Cognitivo-Comportamental ainda é a primeira linha para a psicoterapia nesses casos, mas também podemos dar um destaque à ACT (Terapia de Aceitação e Compromisso), à MBSR (redução do estresse baseada em mindfulness) e à exposição in vivo.
Alguns dos tópicos trabalhados em psicoterapia para pessoas com TAS incluem:
– Exposição gradual a situações sociais que causam medo (também conhecida como dessensibilização sistemática);
– Exercícios com foco na reestruturação cognitiva antes e depois das exposições;
– Mudança nas crenças centrais dos pacientes;
– E, por fim, a prevenção de recaídas.
Quanto aos medicamentos utilizados, os de primeira linha são os inibidores seletivos da recaptação da serotonina (ISRS) e os inibidores da recaptação da serotonina-noradrenalina (IRSN). O medicamento mais famoso dessas categorias é, provavelmente, a sertralina – a qual também é considerada, junto à paroxetina, como o remédio de maior impacto no tratamento do TAS.
Apesar de não ser muito comum que pacientes recebam psicoterapia e tratamento farmacológico combinados, considera-se promissora essa associação. Não seria difícil de imaginar que essa se torne a diretriz recomendada daqui uns anos, não é? Por fim, os anti-ansiolíticos nasais que estão sendo desenvolvidos agora, como o PH94B/fasenediol, também representam uma grande promessa para o tratamento de TAS. Nos resta aguardar os avanços das pesquisas nessa área!
Altai, T., & Chaudry, Q. (2023, October 16). Social Anxiety Disorder: An Underappreciated Entity. Psychiatric Times. https://www.psychiatrictimes.com/view/social-anxiety-disorder-an-underappreciated-entity
Júlio Gonçalves
Psicólogo e Supervisor
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