Um novo estudo, bem representativo, constatou que 25% dos adultos entre 20 e 39 anos com Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) também sofrem de Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG). Além disso, os indivíduos com TDAH têm quatro vezes mais chances de desenvolver TAG em algum momento de suas vidas em comparação com aqueles sem TDAH.
Mesmo considerando fatores relevantes como características sociodemográficas, experiências adversas na infância, histórico de transtornos por uso de substâncias e transtornos depressivos maiores, os indivíduos com TDAH ainda apresentam o dobro das chances de ter TAG.
A autora principal do estudo, Esme Fuller-Thomson, professora da Faculdade de Trabalho Social Factor-Inwentash da Universidade de Toronto e diretora do Institute for Life Course & Aging, enfatiza que essas descobertas destacam a vulnerabilidade dos adultos com TDAH em relação aos transtornos de ansiedade generalizada.
Embora muitos estudos tenham associado o TDAH em adultos à depressão e tendências suicidas, menos atenção tem sido dada aos distúrbios generalizados de ansiedade e a outros resultados adversos ao longo da vida.
Os pesquisadores examinaram uma amostra de 6.898 entrevistados do Canadian Community Health Survey-Mental Health, com idades entre 20 e 39 anos. Dentre os entrevistados, 272 tinham TDAH e 682 tinham TAG. Mesmo após controlar outras variáveis, descobriu-se que os entrevistados com TDAH apresentavam quase cinco vezes mais chances de desenvolver TAG.
Além disso, os adultos que tiveram experiências adversas na infância, como abuso sexual ou físico, ou violência doméstica crônica por parte dos pais, tiveram três vezes mais chances de desenvolver TAG. Entre os entrevistados com TDAH que experimentaram transtornos de ansiedade, 60% relataram ter pelo menos uma dessas experiências adversas na infância. Ainda, as chances de desenvolver TAG eram seis vezes maiores para indivíduos com TDAH que tinham histórico de transtorno depressivo maior ao longo da vida.
Um dos problemas sérios do estudo é a avaliação do TDAH, que foi feita por meio de uma simples pergunta, com o seguinte preâmbulo:
“Agora eu gostaria de perguntar sobre certas condições de saúde de longo prazo que você possa ter. Nós estamos interessados em “condições de longo prazo” que se espera que durem ou já tenham durado 6 meses ou mais e que tenham sido diagnosticados por um médico profissional. Nesse sentido: Você tem TDAH?“
A meu ver, seria necessária a aplicação de um instrumento com propriedades psicométricas mais robustas, para garantir a validade do diagnóstico, contudo, fica em aberto as possibilidades de refinamento da pesquisa a partir desses dados iniciais.
O diagnóstico de TDAH é frequentemente confundido com TAG (e vice-versa), mas, fica a dica para que nas avaliações psicológicas tenhamos o cuidado de verificar os dois transtornos, tanto suas interações quanto suas particularidades.
Fuller-Thomson, E., Carrique, L., & MacNeil, A. (2021). Generalized anxiety disorder among adults with attention deficit hyperactivity disorder. Journal of Affective Disorders. https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/34799150/
Quer fazer ciência na psicologia? Compartilhe, comente, critique e indique estudos para construirmos uma psicologia cada vez mais sólida e confiável. Vamos avançar juntos!