Julio Gonçalves

Rastreamento ocular revela visão de mundo distinta do autista e a mudança de foco social

Conteúdo escrito por Karen Pereira

INTRODUÇÃO

O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é uma condição do neurodesenvolvimento que afeta a vida cotidiana devido ao desinteresse em estímulos sociais, caracterizado por comportamentos repetitivos e estereotipados, interesses específicos e dificuldade na comunicação e interações sociais. Claro, temos que ter cuidado em não reforçar o mito da solidão no TEA, em que já falamos sobre isso aqui. 

De todo modo, neste artigo veremos as descobertas que os pesquisadores fizeram sobre a importância da atenção social no desenvolvimento e da necessidade de diagnóstico e intervenção precoces.  

DESENVOLVIMENTO

Para esse estudo foi utilizada uma tecnologia de rastreamento ocular em crianças enquanto assistiam um desenho animado, a fim de analisar o foco de atenção social.

Ao total, foram analisadas as preferências visuais de 217 crianças, sendo 166 com TEA e 51 com desenvolvimento típico. Para maior homogeneidade, todos os participantes eram do sexo masculino, com idades de 2 a 7 anos sendo testados durante o desenvolvimento.

As crianças deveriam assistir livremente um desenho animado usando um dispositivo de rastreamento ocular que registra os movimentos oculares em tempo real, a fim de que os pesquisadores pudessem observar suas preferências atencionais.

O estudo demostrou que o desenvolvimento da atenção social de crianças com TEA diverge do desenvolvimento de crianças neurotípicas. Enquanto crianças com desenvolvimento típico tendiam a concentrar sua atenção nos elementos sociais, como a interação entre os personagens, as crianças autistas se interessaram mais por estímulos não socias, como objetos ou irregularidades no cenário do desenho, não tendo um padrão específico atencional.

APLICAÇÕES PRÁTICAS

Diferentemente das crianças com desenvolvimento típico, as crianças autistas desenvolvem suas próprias preferências de atenção. No estudo, foi observado que as crianças autistas que tinham o olhar mais parecido com o das crianças típicas funcionam melhor na vida cotidiana, sendo importante a intervenção terapêutica numa fase precoce no direcionamento da atenção social.

A equipe de pesquisa planeja ainda, no futuro, utilizar o método de rastreamento ocular para avaliação das crianças e a intervenção comportamental intensiva conhecida como Modelo Early Start Denver (ESDM), que foi desenvolvida nos Estados Unidos a fim de melhorar as competências de comunicação das crianças autistas mediante interações lúcidas.

CONCLUSÃO

Por sermos seres sociais, a atenção social é essencial para a adaptação e sobrevivência desde o nosso nascimento. O estudo sugere que a atenção social deve ser direcionada precocemente nos tratamentos clínicos a fim de que intervenções precoces ajudem a orientar crianças autistas a melhorarem sua atenção social, com um apoio individualizado e personalizado.

O estudo traz uma descoberta promissora no que diz respeito ao rastreio precoce do diagnóstico. Porém, algumas observações devem ser consideradas limitações no que tange à intervenção. A proposta está embasada na diferença do foco atencional entre crianças neurotípicas e neurodivergentes e ainda não há um estudo longitudinal de avaliação dos participantes enquanto adultos. É importante ressaltar que o psicólogo deve ter um olhar biopsicossocial e o foco em apenas um fator pode nos levar a uma análise incompleta, o que pode atrasar a evolução do tratamento.

Neuroscience News. (2024, January 12). Eye-Tracking Unveils Autism’s Distinctive Worldview and Social Focus Shift. Retrieved from Neuroscience News website: https://neurosciencenews.com/social-focus-asd-25453/

Júlio Gonçalves

Psicólogo e Supervisor

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