Julio Gonçalves

Historicamente, a prevenção do suicídio tem se concentrado nos fatores de risco de saúde mental que podem levar um indivíduo a querer morrer. 

Mas, embora essa abordagem seja atrativa, ela não está funcionando. Essa é a opinião de Michael Anestis, diretor-executivo do Centro de Pesquisa sobre Violência Armada de Nova Jersey. Em 2022, a taxa de suicídio por arma de fogo nos EUA atingiu o recorde: aumentou 1,6% em relação ao ano anterior, resultando em 26.993 mortes. 

É por isso que pesquisadores da prevenção do suicídio adotaram uma nova abordagem: tornar o ambiente ao redor mais seguro, para que aqueles em risco (quer saibam ou não) tenham menos probabilidade de morrer por suicídio. 

Uma política semelhante em Israel resultou em uma redução de 57% na taxa de suicídio no exército. Não foi apenas o aumento da conscientização sobre saúde mental que funcionou, mas também a medida comportamental de não permitir que as pessoas levem suas armas para casa quando estão de folga, observa um artigo de 2016 no periódico European Psychiatry.

Pesquisas publicadas no American Journal of Public Health mostraram que o “aconselhamento de meios letais” para proprietários de armas resultou em uma adoção mais ampla de métodos seguros de armazenamento.

Disso surge um novo programa de treinamento chamado Project Safe Guard, que apropria as figuras neutras – como líderes de unidades militares, barbeiros e líderes religiosos – com as ferramentas para educar os proprietários de armas sobre medidas de segurança ao armazenar suas armas, especialmente em momentos de desespero.

A ideia por trás disso é tornar o ambiente mais seguro, para que, quando alguém estiver em um lugar difícil, seja menos provável que tenha acesso rápido às suas armas. Uma tentativa de mudar normas sociais tanto em um nível micro quanto macro usando mensageiros credíveis. O objetivo é que as pessoas aprendam a ter conversas sobre “suicídio” que não pareçam estranhas ou políticas e que não se assemelhem a um anúncio de serviço público. 

Uma das abordagens é a entrevista motivacional, uma intervenção que funciona dentro do sistema de valores de uma pessoa para alavancar sua motivação intrínseca e fazer mudanças positivas em sua vida. 

As pessoas são ensinadas a fazer perguntas abertas para iniciar uma conversa sobre o armazenamento de armas. Por exemplo, fazer perguntas como: “Como você armazena suas armas?” “O que você usa ou não usa, e quais são suas razões para isso?” “Existem circunstâncias em que você acha que pode fazer sentido não ter acesso tão rápido às suas armas?” Se eles responderem “Não pensei muito nisso”, você pode dizer: “E se houver crianças em casa, ou se você tiver bebido, ou se você não tem se sentido muito bem ultimamente? São situações em que você pode considerar armazenar sua arma de forma mais segura?” 

É sobre abrir uma conversa e ver os lugares onde um proprietário de armas pode estar disposto a fazer mudanças.

Novak, S. (2023). Training Bartenders, Barbers and Divorce Attorneys as Counselors Could Reduce Gun Suicides. Scientific American. https://www.scientificamerican.com/article/training-bartenders-barbers-and-divorce-attorneys-as-counselors-could-reduce-gun-suicides/

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Júlio Gonçalves

Psicólogo e Supervisor

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