A pandemia interrompeu o desenvolvimento do cérebro dos adolescentes

Há quem diga que a saúde psicológica dos adolescentes americanos já estava em declínio antes mesmo da pandemia de COVID-19 – mas novos estudos demonstram que os impactos dos anos pandêmicos exacerbaram essa tendência, revelando efeitos preocupantes no desenvolvimento cerebral. Resultados preliminares de estudos apresentados na conferência anual da Sociedade de Neurociências indicam que a crise de saúde mental resultante da pandemia causou uma perturbação significativa no desenvolvimento normal do cérebro de adolescentes norte-americanos.

Pesquisadores, liderados por Patricia Kuhl da Universidade de Washington, relataram um adelgaçamento (ou seja, diminuição no volume) anormal do córtex cerebral em 124 adolescentes monitorados antes e após os bloqueios da COVID-19. Houve um envelhecimento acelerado do cérebro durante a pandemia, o qual foi mais perceptível em adolescentes do sexo feminino em 68 áreas cerebrais medidas. É normal que o córtex fique mais fino à medida que o adolescente envelhece – mas esse afinamento aconteceu muito mais rápido do que era o esperado para a idade dos participantes.

Além disso, a equipe de pesquisa de Caterina Stamoulis, professora associada na Harvard Medical School, analisou dados de neuroimagem de 1.414 adolescentes no maior estudo em andamento nos EUA sobre desenvolvimento cerebral. Desse estudo, fica a pergunta: será que os adolescentes estavam preparados para a pandemia? E a resposta é que talvez não. Descobriu-se que alguns circuitos cerebrais, que eram menos robustos nos jovens analisados, estavam associados a níveis mais altos de tristeza e estresse durante a pandemia, indicando a importância de entender como o cérebro dos adolescentes pode ter contribuído para problemas de saúde mental e amplificado emoções negativas durante a crise de COVID-19. 

Por fim, é sempre válido lembrar que a adolescência é um período de muitas mudanças cerebrais e vivências complexas, e a pandemia modificou (e muito) os comportamentos de todos nós. Essas descobertas destacam a necessidade de desenvolver intervenções eficazes para mitigar os impactos duradouros da COVID-19 na saúde mental dos jovens.