Julio Gonçalves

Conteúdo escrito por Júlio Gonçalves

Diretamente relacionada à adaptação contínua do tratamento e à evolução do cliente, a Mensuração de Resultados (MR) e o Monitoramento do Progresso (MP) são procedimentos importantes nesse contexto. Diversos autores, conforme comentado por Schiepek et al. (2016), descrevem esses processos como características essenciais de uma prática clínica efetiva e sugerem a integração dos procedimentos de monitoramento nas rotinas de cuidados de saúde mental em todos os contextos.

A MR envolve avaliações intermitentes, como pré e pós-testes (por exemplo, a cada 3 meses, 6 meses, 1 ano, etc.). Isso implica aplicar instrumentos específicos quando o paciente inicia a psicoterapia e novamente após um período determinado para verificar a eficácia do tratamento.

Por outro lado, o MP refere-se à avaliação contínua, sessão por sessão, do progresso do paciente em relação ao tratamento oferecido. Para isso, são empregadas diferentes medidas para avaliar o desenvolvimento do paciente, que incluem instrumentos padronizados, assim como avaliações individualizadas que muitas vezes são criadas pelo psicoterapeuta para monitorar semanalmente o progresso. 

Outras medidas externas incluem observação comportamental em sessão, entrevistas com familiares e observação em ambientes externos, quando aplicável.

Ao aplicar mensuração e monitoramento, uma variedade de instrumentos está à disposição do psicoterapeuta. Contudo, a seleção de instrumentos é uma etapa crucial, por precisar ser coerente com os problemas e objetivos iniciais do paciente, bem como com os sinais, sintomas ou diagnósticos envolvidos.

Na tabela, há sugestões de instrumentos (Gonçalves, 2023).

Uma consideração neste domínio é que a maioria das MR’s e MP’s ocorre durante as sessões reais de psicoterapia, frequentemente de forma não regular, antes ou depois dessas sessões. No entanto, essa abordagem apresenta desvantagens, pois as experiências da vida cotidiana não são relatadas em tempo hábil e próximo de sua ocorrência real (Schiepek et al., 2016).

Essa desvantagem é evidente tanto no âmbito prático quanto na pesquisa. Embora abordagens nomotéticas e idiográficas tenham contribuído significativamente para os resultados da psicoterapia nos últimos anos, a utilização de dados da vida cotidiana dos indivíduos proporciona insights mais relevantes e diretamente aplicáveis a cada indivíduo específico. 

Nesse contexto, vislumbrando o futuro da PBE no nível de individualização do paciente integrado às tecnologias emergentes, a Avaliação Ecológica Momentânea (EMA) – a amostragem repetida de dados comportamentais na vida diária, é uma forte candidata para quebrar paradigmas e inovar o trabalho de investigação clínica.

Focar exclusivamente nos resultados e progresso, embora seja importante, exclui aspectos cruciais de mediação de processos gerais e fatores comuns, que são extremamente relevantes no nível clínico. Por outro lado, a avaliação em tempo real pode reduzir vieses de memória e distorções, resultando em maior validade ecológica dos dados. 

Com a disponibilidade de dispositivos modernos baseados na Web, como smartphones, tablets ou laptops, e o emprego de algoritmos de Aprendizagem de Máquina, esses podem ser os próximos passos para um acesso facilitado ao funcionamento do paciente.

Para melhorar a MR e o MP na prática clínica, considere as seguintes estratégias:

  1. Personalização: Escolha instrumentos que sejam específicos às necessidades e objetivos do paciente. Utilize ferramentas que reflitam os problemas clínicos e os objetivos terapêuticos individuais.
  2. Padronização: Combine instrumentos padronizados (como escalas validadas) com avaliações personalizadas para captar nuances específicas de cada caso.
  3. Uso de Aplicativos: Utilize aplicativos de saúde mental para coleta de dados em tempo real, como avaliações diárias de humor e sintomas.
  4. Sessão por Sessão: Implementar avaliações contínuas em cada sessão terapêutica para monitorar o progresso.
  5. Feedback Imediato: Forneça feedback imediato ao paciente sobre seu progresso para aumentar a motivação e o engajamento.
  6. Avaliações Múltiplas: Utilize uma combinação de auto-relatos, observações diretas, entrevistas com familiares e avaliações ecológicas momentâneas (EMA) para obter uma visão completa do progresso do paciente.
  7. Triangulação de Dados: Combine dados de diferentes fontes para aumentar a precisão e a validade das avaliações (ChatGPT é bom nisso!).
  8. Atualização de Conhecimento: Mantenha-se atualizado com a literatura científica sobre novos instrumentos e metodologias de avaliação.
  9. Co-construção de Objetivos: Envolva o paciente no processo de definição de objetivos terapêuticos e na escolha dos métodos de avaliação.
  10. Revisão Periódica: Realize revisões periódicas dos dados coletados para avaliar a eficácia do tratamento e fazer ajustes necessários.
  11. Adaptação Flexível: Seja flexível na adaptação das intervenções com base nos resultados das avaliações contínuas.
  12. Aliança Terapêutica: Fortaleça a aliança terapêutica, pois a confiança e o engajamento do paciente são cruciais para a eficácia da MR e MP.
  13. Comunicação Aberta: Mantenha uma comunicação aberta e honesta sobre o processo de avaliação e os resultados.

Para finalizar, deixo uma aula em que falo sobre estabelecimento de objetivos, MR e MP!

Schiepek, G., Aichhorn, W., Gruber, M., Strunk, G., Bachler, E., & Aas, B. (2016). Real-Time Monitoring of Psychotherapeutic Processes: Concept and Compliance. Frontiers in Psychology, 7, 604. https://doi.org/10.3389/fpsyg.2016.00604

Soyster, P. D., Bosley, H. G., Reeves, J. W., Altman, A. D., & Fisher, A. J. (2019). Evidence for the Feasibility of Person-Specific Ecological Momentary Assessment Across Diverse Populations and Study Designs. Journal of Person-Oriented Research, 5(2), 53-64. https://doi.org/10.17505/jpor.2019.06

Gonçalves, J. (2023). Estabelecimento de Objetivos, Mensuração de Resultados e Monitoramento do Progresso [arquivo de vídeo]. Aula 7 Curso Descomplicando a TCC (01h10m-01h49m). https://youtu.be/hmO-N1bw9Bw