Julio Gonçalves

Se eu pedisse para você visualizar, digamos, Chaves, você provavelmente não teria problemas em imaginá-lo em sua mente: um menino pobre, com roupas surradas, chapéu de lã, suspensórios e uma expressão inocente no rosto. 

Seria quase como se você estivesse assistindo a um episódio da série “Chaves” em sua cabeça. A habilidade de visualizar é frequentemente referida como “olho da mente”, e muitas pessoas consideram isso tão natural quanto respirar. 

No entanto, esta crença não é completamente precisa. De acordo com estimativas, cerca de 1% da população vive com uma forma extrema de uma condição conhecida como afantasia, a qual impede completamente a capacidade de visualizar qualquer coisa na mente. 

Um estudo investigou se essa condição afeta a criatividade. Os pesquisadores pediram a participantes com afantasia e sem afantasia que realizassem tarefas criativas, como criar ideias para um livro ou desenhar uma paisagem imaginária.

 Os resultados mostraram que, embora os participantes com afantasia tivessem mais dificuldade em visualizar mentalmente os objetos, isso não afetou sua capacidade de gerar ideias criativas. Na verdade, em alguns casos, os participantes com afantasia geraram ideias mais criativas do que aqueles sem afantasia. 

Esses resultados sugerem que a afantasia pode afetar como as pessoas abordam tarefas criativas, mas não necessariamente afeta a capacidade de gerar ideias criativas. Os pesquisadores enfatizam a importância de reconhecer a diversidade nas habilidades cognitivas e de não considerar a afantasia como uma deficiência ou limitação para a criatividade.

Agora, pensando na psicoterapia isso pode ser desafiador, principalmente os modelos cognitivos e algumas abordagens de terceira onda como a ACT, por exemplo, que faz uso de metáforas. 

Esses modelos apostam bastante nos recursos experienciais, que envolve uso direto da imaginação. Pacientes com afantasia podem ter dificuldades na execução desses recursos, o que pode dificultar o processo terapêutico e precisamos ficar ligados nisso!

Zeman, A., Dewar, M., & Della Sala, S. (2015). Lives without imagery – Congenital aphantasia. Cortex, 73, 378-380. https://doi.org/10.1016/j.cortex.2015.05.019

Haber, Gabriella Mendes, & Carmo, João dos Santos. (2007). O fantasiar como recurso na clínica comportamental infantil. Revista Brasileira de Terapia Comportamental e Cognitiva, 9(1), 45-61. Recuperado em 09 de maio de 2023, de http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1517-55452007000100005&lng=pt&tlng=pt.

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