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Debates saudáveis e regulares sinalizam uma sociedade que visa o crescimento, mas interações significativas e mudanças recíprocas de atitude só podem ocorrer se as respectivas partes ouvirem umas às outras de forma aberta, calma e tolerante.
Infelizmente, esta não é uma experiência comum durante o debate, com muitas pessoas experimentando estresse e frustração devido a conversas das quais discordam.
É comum que os debatedores muitas vezes insultem a competência dos outros (ataques ad hominem), não demonstrando vontade de sequer considerar mudar as suas perspectivas quando lhes são apresentadas alternativas e não aceitam as suas próprias limitações.
Um “truque” para esta situação, a humildade intelectual, está recebendo cada vez mais atenção. Os filósofos entendem a humildade intelectual como a disposição de reconhecer ou aceitar as próprias deficiências intelectuais por um desejo genuíno de conhecimento e verdade.
Alguns autores citam que a humildade intelectual é prejudicada pelos mecanismos de defesa psicológica ativados quando o autoconceito é desafiado (na linguagem da Terapia Cognitiva: crenças pessoais ativadas).
Nesse contexto, uma hipótese é que para reduzir respostas arrogantes e servis, a promoção de uma identidade mais coerente é fundamental. Uma intervenção de autoafirmação, que inclui a reflexão sobre valores pessoais, pode fortalecer o senso de integridade. A teoria sugere que isso amplia os recursos psicológicos para enfrentar ameaças, promovendo uma perspectiva mais aberta.
Com isso em mente, alguns pesquisadores conduziram um estudo que explorou a relação entre a autoafirmação e a humildade intelectual, revelando descobertas interessantes sobre como a maneira como nos vemos pode impactar nosso comportamento em discussões controversas.
O estudo envolveu 303 participantes com uma média de idade de 23,89 anos, predominantemente composta por 200 mulheres e 103 homens. Os participantes passaram por uma série de testes iniciais, respondendo a itens sobre informações demográficas, medidas de autoestima e características de personalidade.
Após a fase inicial, os participantes foram expostos a uma manipulação experimental relacionada às mensalidades universitárias, para fomentar o senso de injustiça. Uma apresentação provocativa foi seguida por debates em grupo, gravados para análise posterior.
A autoafirmação (exercício simples que envolvia revisar seus valores pessoais antes do debate) foi introduzida de forma cega, designando aleatoriamente participantes para condições de autoafirmação ou controle.
Os resultados revelaram que a autoafirmação teve um impacto significativo na humildade intelectual durante os debates. Os participantes na condição de autoafirmação exibiram mais humildade intelectual do que aqueles no grupo de controle, indicando uma relação intrigante entre a autoimagem e o comportamento em discussões controversas.
Surpreendentemente, a influência da autoafirmação na humildade intelectual não foi mediada por emoções pró-sociais, indicando que esses efeitos são independentes. Além disso, a autoafirmação também influenciou uma ampla gama de emoções, desde orgulho e vulnerabilidade até tristeza e egoísmo, sugerindo que são processos completamente variáveis.
Essas descobertas iniciais contribuem significativamente para a compreensão da humildade intelectual, oferecendo uma intervenção simples e eficaz.
Além disso, a pesquisa destaca a importância de considerar não apenas as palavras ditas durante um debate, mas também os processos psicológicos subjacentes que moldam nossas interações intelectuais.
Eu, particularmente, achei uma intervenção incrível e bem possível de ser adaptada para prática clínica, principalmente nas demandas que envolvem relações interpessoais.
Hanel, P. H. P., Roy, D., Taylor, S., Franjieh, M., Heffer, C., Tanesini, A., & Maio, G. R. (2023). Using self-affirmation to increase intellectual humility in debate. Royal Society Open Science, 10(2). http://doi.org/10.1098/rsos.220958
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Júlio Gonçalves
Psicólogo e Supervisor
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