Conteúdo escrito por Júlio Gonçalves
INTRODUÇÃO
O Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT) é uma condição que afeta significativamente muitos militares, principalmente nos EUA. O tratamento do TEPT geralmente é complexo e pode envolver uma combinação de terapias. No entanto, a busca por tratamentos mais eficientes tem sido uma constante na pesquisa clínica. Neste artigo, exploraremos um estudo que compara duas abordagens para o tratamento do TEPT entre militares: a Terapia de Exposição Escrita (WET, na sigla em inglês) e a Terapia de Processamento Cognitivo (CPT, na sigla em inglês).
DESENVOLVIMENTO
O estudo utilizou um modelo randomizado para comparar a eficácia da Terapia de Exposição Escrita e da Terapia de Processamento Cognitivo entre militares ativos diagnosticados com TEPT. O objetivo era avaliar se a WET, que é um tratamento mais curto, era tão eficaz quanto a CPT, que é mais demorada.
O estudo incluiu 169 participantes, com a idade média de 34 anos, sendo a maioria homens e servindo no exército. Os participantes foram distribuídos aleatoriamente em duas condições: WET, com 5 sessões semanais, e CPT, com 12 sessões realizadas duas vezes por semana.
O principal critério para avaliar a eficácia dos tratamentos foi a severidade dos sintomas do TEPT, medida pela Escala Clinician-Administered PTSD Scale for DSM-5 (CAPS-5). O estudo também acompanhou os participantes 10, 20 e 30 semanas após a primeira sessão.
Os resultados mostraram que a WET não era inferior à CPT em termos de eficácia no tratamento do TEPT. As diferenças entre as duas condições foram menores do que a margem de 10 pontos na CAPS-5, considerada o limite para significância clínica.
Um dos destaques do estudo foi a taxa de desistência dos tratamentos. A WET teve uma taxa significativamente menor de desistência em comparação com a CPT, com apenas 23,5% dos participantes desistindo do tratamento contra 45,2% para a CPT. Essa diferença significativa pode ser atribuída ao menor número de sessões e à ausência de tarefas entre sessões, tornando a WET uma opção mais viável.
APLICAÇÕES PRÁTICAS
Vamos para a parte boa… Para adaptar a abordagem WET para a prática clínica, é possível considerar algumas estratégias que aproveitem os princípios identificados no estudo para melhorar a adesão ao tratamento e a eficiência dos resultados. Aqui estão algumas ideias práticas que pensei:
Uso de escrita terapêutica: A WET utiliza a escrita como ferramenta terapêutica. Para replicar isso, os psicoterapeutas podem incorporar sessões de escrita em suas abordagens, incentivando os pacientes a escrever sobre suas experiências traumáticas como forma de exposição gradual. Isso pode ser inserido como Plano de Ação semanal.
Foco no relacionamento terapeuta-paciente: A WET depende de um relacionamento de apoio entre o terapeuta e o paciente. Na prática clínica, investir em construir um relacionamento de confiança pode aumentar a eficácia do tratamento, proporcionando ao paciente um ambiente seguro para abordar traumas.
Instrua claramente como fazer: Dê instruções claras ao paciente sobre como abordar a escrita terapêutica. Por exemplo, sugira que escrevam livremente sobre suas emoções e pensamentos relacionados ao trauma, sem autocensura.
Cronograma sistemático de escrita: Crie um cronograma regular para sessões de escrita, como uma vez por semana. Reserve um tempo da sessão de psicoterapia para isso.
Acompanhamento do Progresso: Mantenha um registro do progresso do paciente ao longo do tempo. Avalie se os sintomas do TEPT estão diminuindo e se o paciente está se sentindo mais confortável com a exposição ao trauma por meio da escrita. Também é importante realizar discussões após cada sessão de escrita.
CONCLUSÃO
Os resultados deste estudo são bastante interessantes, mostrando que a terapia de exposição escrita é uma abordagem altamente aplicável na prática clínica.
No entanto, a escolha do tratamento deve considerar as necessidades individuais de cada paciente, alinhando-se a outras intervenções empiricamente consolidadas.
Ah, e como sempre comento: estudos com população brasileira e com amostragem maior ainda são necessários para validação efetiva da intervenção (como sempre, né?).
Júlio Gonçalves
Psicólogo e Supervisor
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