Julio Gonçalves

Um dos recursos mais utilizados na Terapia Cognitivo Comportamental para identificar, avaliar e modificar as crenças centrais desadaptativas é a técnica do continuum, que consiste em ajudar o paciente a perceber que as suas crenças não são absolutas ou dicotômicas, mas sim graduais e contextuais

Por exemplo, se o paciente tem a crença de que é um fracasso, podemos auxiliá-lo a construir um continuum que varia de 0% a 100% de fracasso, e a identificar exemplos de pessoas ou situações que se enquadram em diferentes pontos desse continuum. 

O objetivo é que o paciente reconheça que existem graus de fracasso e sucesso, e que ele não se encaixa na extremidade negativa do continuum.

A técnica do continuum pode ser aplicada de diversas formas, dependendo da necessidade e da preferência do paciente e do terapeuta. 

Algumas possibilidades são: usar uma escala numérica, uma régua, uma linha, um termômetro, um gráfico ou uma imagem. O importante é que o continuum seja concreto, visual e personalizado para o paciente. 

Além disso, é possível orientar o paciente a buscar evidências objetivas e realistas para sustentar os seus julgamentos sobre o continuum, evitando distorções cognitivas ou generalizações.

O continuum pode servir para promover uma mudança cognitiva duradoura, pois permite ao paciente questionar as suas crenças centrais de forma lógica e racional, ampliar a sua perspectiva e desenvolver uma visão mais equilibrada e flexível de si e da realidade. 

Dá um confere na forma que conduzo:

  • Passo 1: defino os conceitos que estou trabalhando em termos cognitivos, comportamentais e emocionais. Começo pelos 100% e depois o 0%.
  • Passo 2: a partir dos 100%, peço para que a paciente pense em alguma pessoa (familiar, personagem, celebridade, etc.) que se enquadra em termos comportamentais na definição desenvolvida. Além disso, peço alguns detalhes, como idade, profissão, contexto que vive, quais modelos ao longo da vida, o que a fez chegar onde está, etc.
  • Passo 3: faço o passo 2 com os outros graus até chegar no 0%.
  • Passo 4: O MAIS IMPORTANTE, pergunto para o paciente onde ele está no continuum!
  • Passo 5: avalio e reflito com o paciente cada contexto das pessoas que ele citou, incentivando o paciente a olhar em perspectiva, perceber cada detalhe da história dessa pessoa, levantando justificativas de determinados comportamentos, etc (essa é a melhor parte!).

Para que o exercício seja eficaz, tenha muito cuidado ao trabalhar nesse nível de cognição, pois está lidando com construtos centrais que afetam o autoconceito, o mundo e o futuro do paciente. 

É recomendável seguir algumas diretrizes práticas, tais como: 

  • planejar a intervenção com base na avaliação do caso;
  • estabelecer uma boa aliança terapêutica com o paciente;
  • usar habilidades de gestão e interpessoais para criar um contexto propício à mudança;
  • monitorar os resultados da técnica;

Apesar de bem conhecida, ainda há pouca literatura científica sobre a sua eficácia e os seus mecanismos de ação. Por isso, são necessários mais estudos empíricos que avaliem os benefícios dessa técnica para diferentes populações e problemas clínicos. 

Ah, esse é meu modelo de continuum!

 

James, I. A., & Barton, S. (2004). Changing core beliefs with the continuum technique. Behavioural and Cognitive Psychotherapy, 32(4), 431–4421. https://doi.org/10.1017/S1352465804001614

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Júlio Gonçalves

Psicólogo e Supervisor

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