Julio Gonçalves

A busca pela felicidade tornou-se uma marca registrada da humanidade moderna. Não é surpreendente terem surgido inúmeros esforços internacionais para medir e relatar os níveis de felicidade em todo o mundo. 

Desde 2012, o Relatório Mundial da Felicidade classifica os países de acordo com seus níveis de felicidade. O último relatório coloca a Finlândia como o país mais feliz do mundo (pelo sexto ano consecutivo), seguido por Dinamarca e Islândia. Os países com os níveis mais baixos de felicidade são Afeganistão, Líbano e Serra Leoa.

Os Estados Unidos ocupam o 16º lugar no Relatório Mundial da Felicidade. Curiosamente, o Quarto Rei do Butão introduziu o conceito de Felicidade Nacional Bruta (FIB) em 1972, declarando-o mais importante do que o Produto Interno Bruto como medida de progresso nacional.

A felicidade é importante. Pessoas mais felizes se envolvem mais frequentemente em suas comunidades e ajudam os outros, tornando-se blocos de construção importantes para sociedades prósperas e moldando a felicidade de uma nação. Assim, a felicidade pessoal emerge como um objetivo individual e um esforço coletivo.

 À medida que a busca pelo bem-estar individual ajuda a definir a sociedade contemporânea, nações em todo o mundo têm se concentrado cada vez mais na promoção da felicidade coletiva.

Os cientistas utilizam o termo “bem-estar subjetivo” para abranger tanto a felicidade quanto a satisfação com a vida, frequentemente denominadas “felicidade”. Para entender essas diferenças entre as nações, os pesquisadores identificaram características típicas de países com níveis elevados de felicidade. 

Esses estudos sugerem que países mais ricos (com PIB per capita mais alto) também são mais felizes, provavelmente porque a riqueza permite o acesso a bens materiais e serviços públicos, como educação e cuidados de saúde. A qualidade institucional, como tribunais fortes e boas leis, também desempenha um papel fundamental na formação de nações mais felizes, reduzindo a corrupção, facilitando o acesso à justiça e levando em consideração os interesses individuais no processo político.

Além disso, a cultura de um país também influencia o bem-estar subjetivo. Segundo o psicólogo social Geert Hofstede, a cultura nacional diz respeito às crenças e princípios compartilhados por um grupo de pessoas, orientando seu comportamento, decisões e interações. Essa cultura é frequentemente analisada em quatro dimensões principais: individualismo, distância do poder, masculinidade e evitação da incerteza. 

Em países individualistas, as pessoas tendem a priorizar seus próprios interesses em detrimento dos coletivos, levando a níveis mais altos de felicidade. Nações mais felizes também tendem a ter níveis mais baixos de masculinidade (ou níveis mais altos de feminilidade)

Sociedades femininas tendem a mostrar preferência por cooperação, cuidado, altruísmo e igualdade de oportunidades para homens e mulheres, proporcionando um senso de equidade. Sociedades masculinas promovem competitividade, conquistas e papéis de gênero diferenciados. 

Nações mais felizes também tendem a distribuir o poder de maneira mais uniforme, chamada de “baixa distância do poder”, com relações sociais informais não limitadas por posições hierárquicas, e onde os eleitores, e não alguns privilegiados, definem a agenda.

 Finalmente, nações mais felizes parecem ser mais tolerantes à incerteza, menos ansiosas em relação a assumir riscos e, portanto, mais propensas a aproveitar as oportunidades da vida. Embora o perfil de um país feliz pareça uniforme conforme descrito nessas características, todas as nações felizes não são iguais, devido à vasta diversidade de fatores culturais, econômicos e sociais que moldam suas identidades e experiências únicas.

Os resultados recentes de uma pesquisa sugerem que múltiplas receitas podem resultar em alta felicidade para um país. Por exemplo, baixa distância do poder, alto individualismo, alta masculinidade, baixa evitação da incerteza, alto PIB per capita e alta qualidade institucional são ingredientes para alta felicidade em países como Canadá, Reino Unido e EUA. 

Esses países possuem uma forte aderência aos princípios do capitalismo com um nível relativamente baixo de ênfase em uma rede de segurança social. Indivíduos nessas sociedades tendem a valorizar qualidades como assertividade (típica de alta masculinidade) e assunção de riscos como impulsionadores essenciais da felicidade. Embora a alta masculinidade seja geralmente considerada prejudicial à felicidade, a orientação para o desempenho parece ser um ingrediente importante para a felicidade nesses países.

Uma receita alternativa para a felicidade envolve baixa masculinidade e alta evitação da incerteza, com os demais ingredientes iguais. Essa receita se aplica a países como Finlândia e Noruega. Eles têm sistemas de seguridade social que oferecem mais segurança e previsibilidade econômica e social. 

Pessoas nesses países têm uma forte preferência por igualdade (típica de sociedades femininas) e apreciam os benefícios da previsibilidade. Assim, em certos contextos, uma alta evitação da incerteza parece ser positiva para a felicidade, uma vez que a previsibilidade pode liberar recursos psicológicos dos indivíduos para seguir seus interesses. Essas duas receitas para alta felicidade ilustram que o que é considerado essencial para a felicidade em uma nação pode não se aplicar a outras.

Foram encontradas também diferentes receitas que levam países a uma baixa felicidade. Curiosamente, embora a felicidade elevada pareça depender fortemente da riqueza, a infelicidade pode manifestar-se independentemente da riqueza. Na verdade, a renda nacional é irrelevante para criar baixo bem-estar subjetivo em um grupo de países (como Montenegro, Turquia, Rússia e Sérvia). Em países relativamente ricos, pode haver disparidades sociais e econômicas significativas, corrupção, agitação social, instabilidade política e restrições à liberdade política. O resultado é uma diminuição dos níveis globais de felicidade, apesar da riqueza do país.

A conclusão desta pesquisa é que os governos em todo o mundo devem adotar uma abordagem flexível e adaptativa para a formulação de políticas, reconhecendo que não há uma abordagem única para promover o bem-estar

Em vez de tentar imitar a receita de um país bem-sucedido, os governos devem desenvolver e implementar políticas adaptadas às características únicas do país, como circunstâncias econômicas e valores culturais. Além disso, para promover a felicidade coletiva, mais do que agir com base em fatores isolados, os formuladores de políticas devem garantir que os ingredientes sejam combinados da maneira correta

 

Pereira, M. C., Coelho, F., & Silva, G. (2023). Unlocking the Secrets of National Happiness: A Cultural and Economic Perspective. Scientific American. https://www.scientificamerican.com/article/unlocking-the-secrets-of-national-happiness-a-cultural-and-economic-perspective/

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Aleck Sandro Fagundes Ferreira (amigo do Julio)
10 meses atrás

Felicidade completa o ser humano só encontra em Jesus e nas suas palavras e promessas.
O resto é satisfação momentânea.
Minha humilde opinião.