Julio Gonçalves

Conteúdo escrito por Júlio Gonçalves

INTRODUÇÃO 

Um recente estudo liderado por pesquisadores do Instituto de Pesquisa Bruyère, do Departamento de Medicina Familiar da Universidade de Ottawa, do Hospital de Ottawa e do ICES revelou resultados relevantes sobre o uso de cannabis e sua relação com transtornos de ansiedade. O estudo, publicado na revista eClinical Medicine do The Lancet, abrangeu uma vasta amostra de mais de 12 milhões de indivíduos em Ontário, Canadá, entre 2008 e 2019, e oferece insights valiosos sobre os impactos potenciais desse comportamento na saúde mental.

Com o aumento do uso de cannabis em muitas partes do mundo e as discussões em torno de sua legalização, compreender os efeitos dessa substância, especialmente em relação à saúde mental, torna-se crucial. Precisamos olhar para esse “elefante na sala”…

CONTEXTUALIZAÇÃO  

A incerteza sobre a relação entre o uso de cannabis e transtornos de ansiedade tem sido um tema de debate contínuo na comunidade científica. 

Este estudo, realizado em uma escala significativa e ao longo de um período substancial de tempo, contribui para preencher essa lacuna no conhecimento, fornecendo evidências robustas sobre os riscos associados ao uso de cannabis em relação à saúde mental, especificamente transtornos de ansiedade.

A pesquisa sobre os efeitos da cannabis na saúde mental remonta a várias décadas, mas estudos de tal magnitude são relativamente raros.

DESENVOLVIMENTO

O estudo revelou que 27,5% dos indivíduos que buscaram atendimento de emergência devido ao uso de cannabis desenvolveram um novo transtorno de ansiedade em três anos, em comparação com apenas 5,6% da população em geral. 

Esses resultados destacam um risco substancialmente maior associado ao uso de cannabis em relação ao desenvolvimento de transtornos de ansiedade.

Utilizando dados de registros de saúde do ICES, os pesquisadores compararam o risco de desenvolver transtornos de ansiedade em indivíduos que buscaram atendimento de emergência devido ao uso de cannabis com a população em geral. 

A análise estatística e o ajuste para fatores de confusão relevantes aumentam a validade dos resultados. O estudo destaca a importância de considerar o uso de cannabis como um potencial fator de risco para o desenvolvimento de transtornos de ansiedade.

Profissionais de saúde mental podem usar essas informações para orientar sobre estratégias de intervenção e prevenção, enquanto os formuladores de políticas podem considerar medidas para educar o público sobre os potenciais riscos associados ao uso de cannabis.

CONCLUSÃO

Contra fatos não há argumentos, e nesse contexto, a lição que podemos extrair deste estudo é a importância de adotarmos uma abordagem cautelosa ao considerar o uso terapêutico ou recreativo da cannabis.

Ainda há debates em andamento sobre a relação causal entre o uso de cannabis e transtornos de ansiedade, indicando a necessidade de mais pesquisas para entender completamente essa interação.

Pratt, M. (2024). Cannabis Use Linked to Higher Anxiety Disorder Risk. Neuroscience News. https://neurosciencenews.com/anxiety-cannabis-use-25569/

Myran, D. T., Harrison, L. D., Pugliese, M., Tanuseputro, P., Gaudreault, A., Fiedorowicz, J. G., & et al. (2024). Development of an anxiety disorder following an emergency department visit due to cannabis use: a population-based cohort study. eClinical Medicine, 69, 102455. https://doi.org/10.1016/j.eclinm.2024.102455