Conteúdo escrito por Armando M. de Lima Jr.
Como sub-componente da imagem corporal, a insatisfação corporal é definida por atitudes negativas em relação ao corpo que resultam de uma discrepância percebida entre o corpo real e o ideal.
A insatisfação está intimamente ligada ao sofrimento psicológico e ao risco aumentado para transtornos alimentares, sendo influenciada por três fontes principais: pais, colegas e a mídia.
Nas mídias sociais, rotineiramente corpos ideais e atraentes são postados seletivamente (ou seja, só as melhores fotos) ou modificados digitalmente (filtros e edições).
Comentários como “Seu corpo é lindo”, “você está incrível”, “você está tão magra”, entre outros, são frequentes nas imagens postadas.
Porém, estudos têm demonstrado que tais comentários têm o potencial de exacerbar as preocupações com a imagem corporal, reforçar ideais inalcançáveis de beleza e reforçar a busca por atratividade orientada para a aparência física e objetificação. Sejam esses comentários recebidos, ou vistos nas fotos de outras pessoas com corpos idealizados.
Em um desses estudos, se investigou a exposição de adolescentes a comentários positivos sobre a aparência física nas redes sociais.
Para isso, os autores contaram com a participação de 613 adolescentes (52% meninas) com idades entre 13 e 18 anos (média de 15,5 anos).
Como resultado, os autores identificaram que embora os comentários positivos possam ser tipicamente percebidos como reforçadores sociais, sua presença em contextos de padrões de beleza inatingíveis pode exacerbar a insatisfação corporal.
Os dados coletados revelaram que meninas que avaliavam os “ideais” na mídia como altamente atraentes demonstraram uma suscetibilidade significativa à insatisfação corporal após a exposição a comentários positivos sobre a aparência. Em contraste, meninos adolescentes não manifestaram a mesma resposta, o que já era esperado, afinal, homens em geral não sofrem com a mesma pressão estética.
Podemos pensar em muitas possibilidades, como reduzir a exposição as redes sociais, mas, também, influenciar na percepção que as pessoas têm sobre o papel dos próprios corpos.
Existem evidências de que visualizar comentários que desencorajam postagens relacionadas à aparência (por exemplo, “Prefiro colocar esse suor, tempo, devoção em algo significativo, além da aparência!”), foi associado a melhorias na satisfação corporal em mulheres jovens adultas. Da mesma forma, os comentários de “apontamento de realidade” (por exemplo, “Lembre-se de que isso é apenas uma pose”) reduziram a insatisfação corporal entre os adolescentes que os viram nas mídias sociais.
Além disso, redirecionar a atenção para ambientes mais realistas pode contribuir para uma relação mais saudável com a própria aparência. Pesquisas demonstraram que adolescentes em ambientes off-line buscam atender padrões compartilhados entre colegas, consistente com ideais convencionais, contextualizados e tangíveis.
Mas é claro, esse é apenas um estudo de uma pequena influência que reflete algo muito maior, ou seja, não é a causa do problema, mas um sintoma. De qualquer forma, se faz importante refletir sobre a perpetuação dos padrões estéticos, objetificação e mercantilização dos corpos.
Kvardova, N., Machackova, H., & Gulec, H. (2023). “I wish my body looked like theirs!”: How positive appearance comments on social media impact adolescents’ body dissatisfaction. Body Image, 47(47), 101630. https://doi.org/10.1016/j.bodyim.2023.101630
Júlio Gonçalves
Psicólogo e Supervisor
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