Julio Gonçalves

Uma forma rara de demência pode liberar a criatividade

Conteúdo escrito por Jennifer Craco

Não é de hoje que o imaginário popular relaciona problemas neurológicos à criatividade. Há muito tempo existe a noção de uma linha tênue entre a arte e a “loucura” – e, talvez, de formas específicas (e não generalizáveis), possa haver uma relação entre algumas doenças no cérebro e um estado mais criativo. 

Quanto a isso, um estudo publicado no JAMA Neurology por pesquisadores de várias instituições, incluindo a Universidade da Califórnia, São Francisco, investigou o aumento da criatividade artística em pessoas com demência frontotemporal (DFT) e nos trouxe insights sobre uma possível causa. A neurologista Adit Friedberg e sua equipe descobriram que, à medida que certas áreas do cérebro diminuem em pessoas com DFT, elas liberam seu controle sobre outras regiões que promovem a expressão artística. Inesperado, para dizer o mínimo!

Abaixo, sistematizamos e sintetizamos a pesquisa para que você consiga compreendê-la melhor:

 

1. Características da DFT:

– A DFT é relativamente rara, afetando cerca de 60.000 pessoas nos EUA, e é diferente do Alzheimer.

– Nomeada pelos lobos frontal e temporal do cérebro, as áreas mais afetadas pela doença.

– Danos no lobo temporal afetam a produção e compreensão da linguagem, enquanto danos no lobo frontal impactam o comportamento social, empatia, planejamento e tomada de decisões.

 

2. Liberação da Criatividade Artística:

– À medida que os lobos temporais perdem volume, eles perdem a capacidade de inibir outras áreas do cérebro, resultando em um aumento da criatividade artística em alguns indivíduos.

– Os pesquisadores analisaram registros médicos de 689 pessoas com DFT ou transtornos relacionados, identificando 17 pessoas (2,5%) que exibiram um aumento significativo ou alterado na expressão artística.

 

3. Comparação de Grupos:

– O grupo de comparação incluiu pacientes com DFT que não demonstraram criatividade artística e indivíduos saudáveis sem demência.

– Exames de ressonância magnética revelaram que as pessoas com DFT tinham volume reduzido no lobo temporal esquerdo, especialmente no grupo artístico.

– Encontraram correlação entre menor atividade nos lobos temporais e maior atividade nas áreas associadas à visão, como o lobo occipital dorsomedial.

 

4. Hipóteses e Observações:

– Os pesquisadores propõem que a perda de atividade nos lobos temporais, devido à DFT, pode aumentar a atividade em áreas visuais, resultando em maior criatividade artística.

– Observações adicionais em um paciente mostraram que, à medida que a DFT progredia, a atividade nos lobos frontal e temporal diminuía, enquanto a atividade nas áreas de associação visual aumentava.

 

5. Reflexões sobre a Evolução e Criatividade:

– A hipótese da percepção visual superior sugere que a capacidade visual intensa pode ter sido substituída pelo desenvolvimento da linguagem ao longo da evolução humana.

– O estudo sugere que o processo evolutivo que favoreceu a linguagem sobre a percepção visual pode ser revertido em casos de DFT.

 

6. Implicações do Estudo:

– Revela a adaptabilidade do cérebro humano e suas capacidades aparentemente infinitas.

– Levanta questões sobre a relação entre capacidades verbais e criatividade visual.

– Apesar das consequências trágicas das doenças neurodegenerativas, este estudo destaca uma potencial consequência positiva – o aumento da criatividade –, ajudando a entender as origens desse viés mais artístico em determinada população.

 

Essa descoberta pode fornecer insights valiosos sobre o funcionamento do cérebro e a natureza da criatividade humana. Você já tinha pensado nisso?

Martone, R. (2023, May 26). A Rare Form of Dementia Can Unleash Creativity. Retrieved from Scientific American website: https://www.scientificamerican.com/article/a-rare-form-of-dementia-can-unleash-creativity/

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