Julio Gonçalves

Conteúdo escrito por Júlio Gonçalves.

Na era da tecnologia e pela mídia social, o TikTok emergiu como uma plataforma poderosa na disseminação de informações sobre saúde mental, incluindo o Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH). Este texto explora o estudo publicado no “The Canadian Journal of Psychiatry”, que investiga a qualidade do conteúdo relacionado ao TDAH no TikTok, oferecendo uma visão crítica sobre os desafios e implicações dessa tendência digital.

CONTEXTUALIZAÇÃO

O TikTok, uma plataforma de mídia social focada em vídeos curtos, tornou-se um meio influente no compartilhamento de experiências pessoais e informações sobre saúde. O estudo em questão analisou os 100 vídeos mais populares sobre TDAH no TikTok, classificando-os em úteis, experiências pessoais ou enganosos, com base em critérios estabelecidos, incluindo a ferramenta de avaliação de materiais educativos para pacientes em formato audiovisual (PEMAT-A/V) e os critérios de referência do Journal of American Medical Association (JAMA).

COMENTÁRIO IMPORTANTE: Breve parada para fazer um comentário sobre a escala PEMAT-A/V – a mesma pode ser acessada aqui e é uma ferramenta super útil para avaliação de materiais em saúde, principalmente na atualidade, com o tanto de cartilhas e materiais psicoeducativos que estão sendo produzidos! 

 

PRINCIPAIS DESCOBERTAS

A análise revelou que aproximadamente 52% dos vídeos eram enganosos, 27% consistiam em experiências pessoais, e apenas 21% foram classificados como úteis. Esses dados destacam uma preocupação significativa sobre a propagação de desinformação relacionada ao TDAH no TikTok. Os vídeos enganosos frequentemente apresentavam informações sem evidências científicas ou exageravam sintomas específicos do TDAH.

Os vídeos úteis, embora em menor número, ofereciam informações precisas e baseadas em evidências sobre o diagnóstico, sintomas e tratamento do TDAH, refletindo a importância de fontes confiáveis e profissionais de saúde na educação do público. Entretanto, esses vídeos tiveram menor popularidade em comparação com os enganosos ou baseados em experiências pessoais, sugerindo uma preferência dos usuários por conteúdos que apresentam narrativas pessoais ou informações simplificadas, porém, muitas vezes incorretas.

IMPLICAÇÕES E DESAFIOS

O que as pessoas não fazem por like…

Essa disseminação massiva de informações enganosas (não só de TDAH) levanta preocupações significativas sobre os impactos na saúde mental dos usuários, potencialmente influenciando percepções errôneas sobre o transtorno e afetando decisões relacionadas ao tratamento. A presença predominante de conteúdo não verificado e a falta de rigor científico em muitos desses vídeos destacam a necessidade crítica de iniciativas educacionais e de conscientização que promovam informações precisas e baseadas em evidências. Em resumo: as pessoas precisam estudar mais!

Além disso, os resultados do estudo demarcam a importância dos profissionais de saúde em participar ativamente de plataformas de mídia social como o TikTok, para oferecer uma contraposição confiável à desinformação e apoiar a disseminação de informações de saúde mental precisas e úteis.

CONCLUSÃO

Os esforços devem ser colaborativos, envolvendo profissionais de saúde, educadores e os próprios gestores das plataformas de mídia social, a fim de assegurar que o conteúdo relacionado à saúde mental seja preciso, acessível e, primordialmente, benéfico para o público.

Yeung, A., Ng, E., & Abi-Jaoude, E. (2022). TikTok and Attention-Deficit/Hyperactivity Disorder: A Cross-Sectional Study of Social Media Content Quality. The Canadian Journal of Psychiatry, 67(12), 899-906. https://doi.org/10.1177/07067437221082854