Julio Gonçalves

Esse é o primeiro diagrama de circuito causal da dinâmica da depressão em adultos. O modelo baseia-se em esforços anteriores para mapear mecanismos de depressão e foi desenvolvido por uma revisão estruturada da literatura na qual foram identificados os principais impulsionadores cognitivos, sociais, ambientais e biológicos do TDM e as interações entre eles. O modelo é extremamente útil como recurso psicoeducativo!

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Dimensões Cognitivas

Na dimensão cognitiva, o modelo delineia uma série de feedbacks que desempenham um papel fundamental na gênese e na persistência da depressão. Esses loops de feedback são caracterizados pela influência de representações cognitivas negativas, que se formam em resposta a adversidades precoces, na percepção e resposta do indivíduo ao estresse. 

Essas representações criam um ciclo que amplifica o afeto negativo e interpretações enviesadas, resultando, em última análise, no aprofundamento do estado depressivo. 

Fatores-chave, como o déficit cognitivo, agravam ainda mais as deficiências cognitivas, conduzindo a comportamentos disfuncionais que reforçam modelos cognitivos negativos. Esse ciclo ininterrupto perpetua o estado depressivo, resultando em um desempenho cognitivo enfraquecido e na intensificação da percepção de estresse.

Dimensões Sociais e Ambientais

No âmbito das dimensões sociais e ambientais, são introduzidos feedbacks que demonstram como os comportamentos e experiências de um indivíduo podem impactar suas redes sociais e seu bem-estar econômico

Comportamentos disfuncionais, como aqueles relacionados a relacionamentos interpessoais ou ao desempenho no trabalho, podem levar ao isolamento social e ao estresse financeiro, reforçando ainda mais as representações cognitivas negativas. Esses feedbacks lançam luz sobre a relação recíproca entre fatores sociais e econômicos e estados depressivos. O acúmulo gradual desses fatores pode criar ciclos viciosos que sustentam a depressão.

Dimensões Biológicas

A dimensão biológica do modelo explora os aspectos fisiológicos da depressão. O estresse desencadeia uma cascata de respostas que incluem níveis elevados de cortisol e uma resposta imunológica exagerada. Esses processos estão intrincadamente interligados e contribuem para a desregulação do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal (HPA), resultando em problemas de saúde física e mental. 

A exposição crônica ao cortisol e às citocinas pró-inflamatórias pode perturbar os níveis de neurotransmissores monoaminérgicos, afetando o sono, a aprendizagem, a memória e a regulação emocional. Essas perturbações criam um ciclo de feedback que perpetua a depressão, reforçando diversas disfunções fisiológicas, como a atrofia do hipocampo. A intrincada interação desses fatores biológicos destaca a importância de compreender as mudanças graduais e de longo prazo que contribuem para estados depressivos.

Fatores Exógenos

Embora a ênfase tenha se concentrado principalmente nos loops de feedback endógenos dentro do modelo, é crucial reconhecer o papel de fatores exógenos que podem desencadear ou agravar a depressão

Esses fatores externos incluem predisposições genéticas, traços de personalidade, como a neuroticismo, gênero, status socioeconômico e influências ambientais

Além disso, eventos aleatórios, como acidentes, a perda de entes queridos e experiências adversas precoces, podem impactar significativamente a vulnerabilidade de um indivíduo à depressão. A interação entre esses fatores exógenos e os loops de feedback pode complexificar ainda mais a dinâmica da depressão por meio de mecanismos epigenéticos.

Em resumo, o modelo apresentado oferece uma compreensão abrangente da depressão. Reconhecendo a interação dessas dimensões e a sensibilidade temporal, obtêm-se informações valiosas sobre as dinâmicas de longo prazo da depressão e os pontos potenciais de intervenção para sua prevenção e tratamento. 

O artigo é complexo, assim como dá para ver na figura acima, mas, caso queira algo mais simplificado, só clicar na imagem abaixo que é a figura que uso como recurso de psicoeducação com os pacientes.

Wittenborn, A. K., Rahmandad, H., Rick, J., & Hosseinichimeh, N. (2016). Depression as a systemic syndrome: mapping the feedback loops of major depressive disorder. Psychological Medicine, 46(3), 551-562.   https://doi.org/10.1017%2FS0033291715002044

Abreu, P. R., & Abreu, J. H. S. S. (Eds.). (2021). Transtornos psicológicos: terapias baseadas em evidências (1st ed.). Santana de Parnaíba, SP: Manole.

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