Julio Gonçalves

As mídias sociais desempenham um papel ambivalente na vida dos jovens, podendo contribuir para o bem-estar e também para o mal-estar. 

Os efeitos variam dependendo de diversos fatores, como características individuais e o conteúdo consumido. Por exemplo, o impacto das mídias sociais pode ser diferente para um jovem de 12 anos com depressão que consome conteúdo pró-anorexia no Instagram em comparação com um jovem transgênero de 17 anos que compartilha experiências em um Reddit. 

Além disso, para certos grupos, as mídias sociais oferecem benefícios específicos, como apoio emocional e informativo para jovens e espaços seguros para grupos historicamente marginalizados e/ou estigmatizados (pessoas com TEA ou TDAH, por exemplo, são beneficiados em seus grupos em relação à troca de estratégias para a vida).

Para prática clínica, entender o uso de mídias sociais de um paciente é crucial na avaliação da saúde mental. Os clínicos podem usar uma extensão do mnemônico de triagem psicossocial HEADS4 (infelizmente não há validação para o Brasil, mas podemos usar qualitativamente), que inclui perguntas sobre mídias sociais.


 Algumas dicas práticas incluem perguntar sobre quais plataformas o paciente usa, quanto tempo passa nelas diariamente, se acha que usa em excesso e como o uso afeta sua autoconfiança. Também é importante abordar temas como cyberbullying e exposição a conteúdo perturbador.

Em uma pesquisa, mais de 800 jovens com idades entre os 14 e os 24 anos responderam às seguintes perguntas: 

  1. Que conselho daria aos jovens novos nas redes sociais?
  2. Você já sentiu que precisa mudar o uso das redes sociais (o que você visualiza, o tempo gasto, etc.)? Por quê?
  3. Você já excluiu ou pensou em excluir sua(s) conta(s) de mídia social? Por quê? 

Segundo a pesquisa, os jovens partilhavam conselhos que coincidiam com as orientações partilhadas por organizações profissionais (como a Academia Americana de Psiquiatria Infantil e Adolescente e a Academia Americana de Pediatria), mas também partilhavam conselhos que as organizações profissionais ainda não comentaram

Seus novos conselhos incluíam aspectos mais individuais das mídias sociais, como a conscientização da autoestima derivada de métricas de popularidade nas mídias sociais e a promoção da alfabetização midiática, incluindo como detectar informações erradas e fotos editadas. Eles também relataram frequentemente que não há problema em fazer pausas nas redes sociais todos juntos.

As informações que obtidas a partir do estudo serviram de base para a criação de um vídeo educativo que descreve diferentes mudanças nas configurações do Instagram, mapeadas conforme as recomendações feitas pelos jovens no estudo.

 

O vídeo demonstra alterações de configuração relacionadas a recursos de segurança, desativação de contagens de curtidas e visualizações, lembretes de horário e alteração do consumo de conteúdo. Os factores que contribuem para o mal-estar descritos pelos jovens podem orientar potenciais mudanças práticas na utilização das redes sociais. 

Pais e/ou cuidadores também desempenham um papel vital no apoio ao uso saudável de mídias sociais pelos jovens. Eles podem modelar comportamentos saudáveis, envolver-se em conversas abertas sobre o uso e manter certos espaços livres de telas, como o quarto. 

Além disso, os familiares podem utilizar recursos como o Plano de Mídia Familiar da Academia Americana de Pediatria para criar um ambiente digital mais saudável. É uma ferramenta interativa muito interessante, que concentra uma série de orientações sobre os temas. 

Outro recurso interessante para os familiares é o site Guia de Fatos para Famílias sobre saúde mental de crianças e adolescentes, que fornece informações concisas e atualizadas sobre questões que afetam crianças, adolescentes e suas famílias, como adoção, transtornos mentais, assédios, etc.

O uso de mídias sociais entre os jovens é uma questão complexa que requer orientação e apoio adequados. Psicoterapeutas desempenham um papel vital ao ajudar os jovens a navegar por esse mundo digital de maneira saudável e consciente. Ao ouvir as vozes dos próprios jovens e seguir diretrizes sólidas, podemos contribuir para um relacionamento mais equilibrado com as mídias sociais e promover o bem-estar dos jovens.

 

Harness, J., Fitzgerald, K., Sullivan, H., Selkie, E. (2022). Youth insight about social media effects on well/ill-being and self-modulating efforts. J Adolesc Health, 71(3), 324-333. https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/35691849/

Harness, J., Chang, T. (2023). Social Media Use and Youth Mental Health: A Guide for Clinicians Based on Youth Voices. Psychiatric Times. https://www.psychiatrictimes.com/view/social-media-use-and-youth-mental-health-a-guide-for-clinicians-based-on-youth-voices

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Júlio Gonçalves

Psicólogo e Supervisor

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