Julio Gonçalves

A similaridade fenotípica entre casais humanos é um campo amplamente estudado com implicações em diversas disciplinas. Inclusive, já comentamos brevemente sobre isso aqui.

Tanto geneticistas como psicólogos estão interessados nas magnitudes e mecanismos subjacentes às correlações entre parceiros, pois ambos podem afetar aspectos genéticos e ambientais, influenciando a vida prática dos casais.

Sociólogos, antropólogos, economistas e outros cientistas sociais também investigam essas correlações para obter insights sobre tendências em valores sociais, o mercado de trabalho, desigualdades socioeconômicas, satisfação em relacionamentos e taxas de divórcio

Compreender os padrões de (des)similaridade entre parceiros fornece um contexto valioso tanto para fenômenos socioculturais quanto biológicos, bem como para sua interseção, e pode lançar luz sobre as forças que moldam as tendências de acasalamento humano.

Ao contrário do ditado “os opostos se atraem”, as correlações fenotípicas entre parceiros humanos e não humanos, um fenômeno conhecido como acasalamento seletivo”, são predominantemente positivas. 

Isso significa que os parceiros tendem a ser semelhantes em muitos aspectos, incluindo valores políticos, educação, QI e até mesmo o uso de substâncias. Várias mecânicas podem levar a essa semelhança. A homogamia fenotípica ocorre quando os parceiros se assemelham diretamente em um traço específico

Além disso, a homogamia social ocorre quando os parceiros têm semelhanças em aspectos não hereditários de um traço, enquanto a homogamia genética envolve semelhanças em traços hereditários. Os parceiros podem se tornar mais semelhantes ao longo do tempo devido a influências fenotípicas diretas ou ao compartilhamento mútuo de fatores ambientais

Um estudo realizou uma meta-análise de 480 correlações entre parceiros do sexo oposto em 22 traços frequentemente investigados, bem como uma análise dos dados brutos de 133 traços em casais do Reino Unido. 

Os resultados revelaram que as correlações mais notáveis foram encontradas em relação à educação, uso de substâncias, traços de atitude e comportamentais, que eram frequentemente moderadas e relativamente elevadas. Por outro lado, características antropométricas, psicológicas (como traços psiquiátricos e de personalidade) e relacionadas à saúde geralmente apresentavam correlações baixas a moderadas.

A pesquisa observou correlações mais altas para valores políticos e religiosos, realização educacional, pontuação de QI e alguns traços relacionados ao uso de substâncias. Entretanto, é importante destacar que a heterogeneidade entre as amostras estudadas era significativa, o que sugere que os níveis de semelhança entre parceiros podem variar consideravelmente entre diferentes populações, contextos e culturas.

Compreender como e por que os parceiros se assemelham é crucial para avaliar a validade de estimativas genéticas e ambientais, bem como para aprimorar a interpretação dos resultados em estudos genéticos e não genéticos. 

Além disso, esses insights podem ser úteis para orientar intervenções de saúde pública e a compreensão das dinâmicas complexas dos relacionamentos humanos. Claro, é importante reconhecer as limitações do estudo, incluindo a falta de diversidade geográfica nas amostras, o que ressalta a necessidade de pesquisas futuras em diferentes contextos culturais e populacionais.

Horwitz, T. B., Balbona, J. V., Paulich, K. N., & Keller, M. C. (2023). Evidence of correlations between human partners based on systematic reviews and meta-analyses of 22 traits and UK Biobank analysis of 133 traits. Nature Human Behaviourhttps://doi.org/10.1038/s41562-023-01672-z

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Júlio Gonçalves

Psicólogo e Supervisor

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