Conteúdo escrito por Jennifer Craco
A depressão é um transtorno altamente variável na forma como se apresenta, em sua severidade e no curso da doença; às vezes, é difícil até acreditar que os pacientes deprimidos estão sofrendo pela mesma psicopatologia. O Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5) classifica todos os casos de depressão de duas formas: transtorno depressivo maior, ou transtorno depressivo persistente (também conhecido como distimia). Porém, alguns teóricos têm dividido a problemática em vários subgrupos, como: depressão endógena ou metabólica; exógena ou reativa; anaclítica; introjetiva; alegada (no inglês, claiming depression); autoculposa; personalidade depressiva; etc.
A depressão autoculposa é o foco deste artigo, e é caracterizada por sentimentos de culpa, autoacusação e um senso exacerbado de autorresponsabilidade. Teorias como a psicanalítica e a psicodinâmica compreendem a depressão como uma reação à perda: de um ente querido, de um emprego, de um status, de uma concepção de nós mesmos, de um ideal. Na depressão autoculposa, o paciente compreende essa perda como algo que foi ocasionado devido ao seu modo de vida. Ele considera, então, que não merece nenhum tipo de ajuda ou sentimentos de pena e que merece morrer.
Os pacientes com esse subtipo de depressão, de acordo com a experiência clínica do autor do artigo, são mais difíceis de trabalhar; contudo, a psicoterapia ainda permanece sendo particularmente efetiva nesses casos, apesar de haver algumas particularidades no tratamento. O terapeuta não pode tomar para si o lugar de “ajudante benevolente”, pois a expressão de esperança por parte do terapeuta faz com que o paciente se sinta ainda pior. É importante, pois, compreender junto com o paciente o significado dos sentimentos de culpa e responsabilização em sua vida pregressa (e não somente tentar corrigir cognições) e que eles correspondem a uma resposta de grandes proporções a uma perda antiga.
Por fim, os pacientes com depressão autoculposa muito facilmente interpretam frases e palavras de apoio como críticas, além de reagir a pequenas decepções do cotidiano de maneira muito intensa. Por esse motivo, o terapeuta deve estar muito atento a essas tendências para que a depressão não seja, então, perpetuada; mas a psicoterapia é possível e, na maior parte das vezes, efetiva nesses casos.
Ruffalo, M., (2022, February 9). Self-Blaming Depression: Theory and Technique. Psychiatric Times. https://www.psychiatrictimes.com/view/self-blaming-depression-theory-and-technique
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